Viajar na Austrália

Se vais para a Austrália em viagem ou com um WHV, vais certamente querer saber a melhor forma de viajar pelo país. Existem várias opções, mas achamos que comprar um carros é a melhor se o quiseres fazer por vários meses. Vamos explicar-te porquê, que tipo de carro comprar, e também todos os custos que tivemos.

  1. Porquê comprar um carro?
  2. Greyhound Bus
  3. Carta de Condução?
  4. Que carro comprar?
  5. Outras especificações
  6. Comprar um carro
  7. Seguro e Impostos
  8. O nosso carro – ‘05 Nissan X-Trail Ti 4WD 2.5

1Nós não precisávamos de um carro quando morávamos em Melbourne, e recomendamos que não o faças se fores viver para uma grande cidade. Comprámos o nosso um mês antes de iniciarmos a nossa viagem, mas tivemos a sorte de um amigo que morava nos subúrbios nos ter deixado estacionar em casa dele. Se queres fazer farm-work para o segundo ano, então é muito provável que estejas numa zona com menor densidade populacional, e teres um carro vai-te ajudar imenso a procurar trabalho.

A forma como vais viajar pela Austrália vai depender do tempo e do dinheiro disponíveis, bem como das regiões que queres visitar. Durante a nossa viagem conhecemos pessoas que escolheram opções diferentes, o que nos permitiu perceber as suas vantagens e desvantagens.

Boleia: Andar de boleia não é para todos, mas é uma opção que vimos várias vezes. Pessoas que não se conheciam de lado nenhum fizeram amizade e viajaram juntas em parte ou na totalidade do percurso. É uma forma mais económica de viajar, sem te preocupares com custos inesperados, mas obviamente estás sujeito à disponibilidade do condutor. Nós queríamos ter a liberdade de escolher onde ir e quando ir, por isso esta opção estava fora de questão. Tambem pode ser um risco dado nao conheres o condutor.

Transportes Públicos: Esta opção é mais adequada para zonas com maior densidade populacional, como a costa leste (QLD, NSW e VIC). Na Austrália Ocidental (WA) e em outras áreas mais remotas, essa opção torna a viagem mais difícil e limitada. Podes sempre juntar transporte público com boleias e/ou aluguer de carro. E’ uma das opções mais económicas, mas tem limitações significativas fora da costa leste.

Podes andar de aviao entre as grandes cidades e capitais, mas tambem existem varios aeroportos em areas mais remotas, mas os voos sao por norma caros. A melhor opcao (para a costa leste) sao os autocarros da Greyhound Bus (mais informacao abaxio). Nas grandes cidades/capitais tens transportes publico disponiveis, assim como nas areas metropolitanas e tambem alguns servicos de comboios e autocarros regionais.

Damos mais pormenores sobre cada cidade no guia da nossa viagem, mas como vivemos em Melbourne, podes encontear toda a inforacao nessa pagina.

Aluguer: Alugar um carro é a opção mais sensata na Austrália se estiveres num visto de turismo (3 meses). Se estiveres por mais tempo, como nós estivemos num visto Working Holiday, pode compensar comprar um carro.

Existem várias empresas de aluguer com diversas opções disponíveis, como carros, vans, 4×4 e caravanas. Se o teu objetivo for dormir no carro (o que recomendamos vivamente), deves optar por uma caravana ou uma van. É bastante comum encontrar monovolumes com cama na parte traseira. Alugar um carro não difere muito de fazê-lo noutro país, mas recomendamos que pagues um extra pelo seguro contra danos, porque qualquer pequeno incidente pode sair-te caro!

Deves ter cuidado se a tua intenção for fazer off-road, pois mesmo que alugues um 4×4, na maioria das vezes as empresas de aluguer não permitem e eles sabem se o fizeres, porque os carros têm GPS com telemetria. A famosa praia dos cangurus (Lucky Bay), por exemplo: podes esquecer a ideia de levar o carro para a praia, porque eles vão descobrir, podem cobrar-te por isso e até cancelar o resto do aluguer.

Alugar permite-te alguma flexibilidade sem te preocupares com manutenção e avarias.

Comprar Carro: Permite-te ires onde quiseres, quando quiseres! Vais ter que te preocupar com a compra e venda, manutenção, impostos e outras questões, mas acreditamos que esta seja o ideal para viagens mais longas. Se, como nós, já tiveste um carro, tudo com que vais ter que lidar na Austrália não é muito diferente do que terias que lidar em Portugal (ou noutro país), mas clato tem as suas nuances, e vamos explicar-te tudo mais abaixo.

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Se preferes usar transportes publicos e o teu objetivo for visitar a costa leste (de Melbourne a Cairns), tens o serviço da Greyhound Bus – sem dúvida a melhor opção para um backpacker! Este serviço liga várias cidades e tem imensas paragens disponíveis. Tens 2 tipos de passes disponiveis: WHIMit East Coast ou WHIMit National. O primeiro dá-te acesso ilimitado à costa leste, enquanto que o nacional inclui também o Northern Territory, Western e South Australia, embora estas zonas tenham muito menos paragens e horários.

Se o teu objetivo for percorrer a costa oeste, então as tuas opções são mais limitadas. Existem algumas empresas que oferecem passeios de alguns dias, mas achamos que nesta zona é melhor alugares um carro. O interior da Austrália, o norte e a Tasmânia também são áreas que podem ser melhor exploradas com um carro alugado ou em tours.

WHIMit East Coast Pass
7 dias – AU$249
15 dias – AU$319
30 dias – AU$389.

 WHIMit National Pass
15 dias – AU$349
30 dias – AU$439
60 dias – AU$499
90 dias – AU$629

Atencao que estes precos podem ser alterado, por isso deves confrimar os mesmos site da Greyhound Australia.

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Se o teu objetivo for conduzir na Austrália, vais obviamente precisar de ter carta de condução. Se estiveres num visto de turismo e apenas quiseres viajar por algumas semanas, basta pedires uma carta internacional no IMT. Se, como nós, estiveres num WHV e quiseres conduzir durante vários meses, podes fazer a carta internacional (com validade de um ano), mas também tens outras opções.

 Se quiseres alugar um carro, a carta internacional é a escolha mais fácil, mas também podes simplesmente traduzir a tua carta por um tradutor certificado. Se comprares um carro, ambas as opções são válidas, mas atenção que a carta internacional tem validade de um ano, enquanto que a tradução é válida até à data de validade da tua carta, que presumimos ser bem mais de um ano.

 Se estiveres num WHV, presumimos que vais viver na Austrália por alguns meses (ou anos). Passado algum tempo, tens que obter a carta de condução do estado onde estás a viver. Nós vivemos em Victoria, mas nunca a convertemos. O limite é de 6 meses, mas deixamos o estado mesmo no limite, e, sejamos honestos, não há um controle rigoroso. Também não existe obrigação (em Victoria e WA, pelo menos) de ter uma carta local para comprar um carro. A única restrição é que quando compras ou vendes um carro, não podes tratar do processo online.

 Se precisares de traduzir a tua carta, podemos dar-te um contato, mas, por uma questão de privacidade, tens que nos enviar uma mensagem.

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Pelo caminho conhecemos vários backpackers que fizeram opções diferentes, e vamos usar as experiências deles em conjunto com a nossa, e os nossos conhecimentos para te ajudar a escolher um carro.

A maior parte opta por uns dos quatro tipos: carro, carrinha, SUV ou 4×4.

Carro

O típico carro ‘normal’, incluindo as versões carrinha/station wagon. Apesar de haver muitas opções, não recomendamos porque são pequenos para viajar full-time. Existem opções AWD, mas a baixa altura ao solo faz com que só sejam bons com chuva/neve, e não fora de estrada. Devemos ter visto uns 2 durante a nossa viagem….

Vantagens: Baratos, baixo consumo e muitas opção de escolha.

Desvantagens: Muito limitados fora da estrada e pouco espaçosos.

Carrinha (van)

Esta é uma das opções mais recomendadas porque tens imenso espaço. Descartámos esta opção porque queríamos sair do alcatrão, e grande parte estão sobrevalorizadas. Existem variantes 4×4 mas mesmo assim com baixa altura ao solo. Raras, mas existem versões verdadeiramente off-road (Mitsubishi Delica), mas são caríssimas.

Vantagens: Espaçosas e versáteis, consumos razoáveis e variedade de opções.

Desvantagens: Muito limitados fora da estrada e demasiado caras quando já equipadas.

4×4

Se queres sair do alcatrão, um 4×4 é a melhor opção. Por norma são espaçosos (não tanto como uma carrinha), têm uma grande altura ao solo, transmissão as 4 rodas, baixas e bloqueio do diferencial, o que faz desta a opção indicada para fazer off-road. Era algo que queríamos fazer, mas sem ir aqueles sítios mais malucos como à Gibb River Road e York Peninsula. Nextas zonas só mesmo com um 4×4, e de preferência com equipamento adequado e experiência, e a contar também com reparações e manutenção extra.

Vantagens: A melhor opção off-road!

Desvantagens: Elevado consumo de combustível e de manutenção. Alguns upgrades obrigatórios para off-road a sério.

SUV

Um meio termo entre um carro e um 4×4. Dá-te uma altura ao solo maior que um carro/carrinha, muitos tem um sistema de tração às 4 rodas com uma capacidade off-road razoável, e os consumos são moderados. Apesar de melhor que um carro, grande parte dos SUV’s não chegam aos calcanhares de um 4×4 quando fora da estrada. Estas capacidades também variam muito de SUV para SUV. Um SUV pode ser 2WD (tracao apenas num eixo), 4×4 ou AWD – explicamos as diferencas mais pormenorizadamente em baixo.

Vantagens: Podem ser competentes fora de estrada, espaçoso e consumos razoáveis.

Desvantagens: Não são tão bons como um 4×4 fora de estrada, consumos superiores ao de um carro e menos espaçosos que uma van.

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Combustível

A escolha do tipo de combustível é uma pergunta que muitas pessoas fazem, não só ao viajar pela Austrália, mas também na compra de um veículo em qualquer situação e país. Se o teu objetivo é comprar um carro usado com alguns anos, acho que podemos logo de início excluir elétricos e híbridos, o que nos deixa com gasolina, diesel ou GPL.

Pessoalmente, não gostamos de veículos diesel. É uma questão de preferência pessoal, mas também temos razões técnicas e ambientais. Ao contrário do que muitos pensam, um motor diesel polui mais do que um equivalente a gasolina. Emitem mais CO2, sim, mas este não é um poluente, e se estás preocupado, há coisas mais importantes que podes (e deves) fazer, como conduzir de forma eficiente e ter a manutenção do carro em dia.

Dito isto, um diesel pode ser uma boa opção por gastares menos, mas atenção que, ao contrário de Portugal, a gasolina é bem mais barata na Austrália. Deves fazer bem as contas, porque um diesel vai custar mais na compra e na manutenção. Num carro normal ou num SUV, um diesel pode não fazer grande diferença no consumo, mas num 4×4 bem carregado pode fazer uma grande diferença. Se quiseres fazer zonas específicas da Austrália, como a Gibb River Road, o diesel é a melhor opção, pois não há postos que vendam gasolina.

GPL é algo a considerar, mas tal como em Portugal, é difícil encontrar postos em zonas mais remotas, por isso a poupança não vai ser significativa numa viagem pelo país.

A nossa opção foi um carro a gasolina. Por ser um SUV, o consumo não era excessivo, tinha potência e força suficiente para o que precisávamos, e um motor comum e fácil/barato de manter.

Caixa de velocidades

Escolher uma caixa manual ou automática vai depender da tua preferência e do que está disponível no mercado. O João prefere manual e a Bárbara automática, e apesar do João ter conduzido na maior parte da viagem, comprámos um carro com caixa manual porque aquele era o carro que queríamos – teríamos comprado um automático se fosse o carro ideal. A grande vantagem duma caixa automática é a condução em cidade, mas se o teu objetivo é viajar na Austrália, vais fazê-lo poucas vezes.

Não aconselhamos caixas automáticas por serem mais complexas, caras de arranjar em caso de avaria e com maior consumo de combustível, mas se o carro certo for automático, não deixes de o comprar. Não é ao nível americano, mas caixas automáticas são bem mais comuns na Austrália do que em Portugal.

Tipo de transmissão

Já falamos um pouco sobre isto anteriormente, mas o tipo de transmissão é a forma como a potência do motor chega às rodas. Esta pode ocorrer apenas num eixo (2WD), à frente (FWD) ou atrás (RWD), 4 Wheel Drive (4WD) ou All Wheel Drive (AWD).

Se já tiveste um carro em Portugal, o mais provável é ter sido FWD, mas algumas marcas, como a BMW e a Mercedes, utilizam muito o sistema RWD. Há diferenças, mas sendo ambos tração num unico eixo, é algo com que honestamente não te deves preocupar.

4WD, ou 4×4, implica que existe tração em ambos os eixos. Muitos carros (para poupança de combustível) permitem que funcione em modo 2WD (sendo que RWD é o mais comum), e com uma segunda manete (ou com um botão/seletor em carros mais modernos) podes ativar o sistema 4WD. Este sistema é puramente mecânico.

Esta é a melhor opção para conduzir fora de estrada, mas como já explicamos anteriormente, é também a mais complexa, mais cara de manter e com maiores consumos. Os sistemas 4×4 também têm baixas e bloqueio de diferencial. As baixas permitem-te vencer condições mais adversas, como inclinações mais íngremes ou estradas de pedra, com mais força e velocidades mais baixas. O bloqueio do diferencial garante que as rodas no mesmo eixo rodam à mesma velocidade, essencial para evitar que uma delas patine em superfícies como lama ou gelo.

Existem sistemas 4WD mais simples, como o que o nosso X-Trail tinha. Apesar de ser um SUV e não um “jipe,” este tinha um sistema 4×4, sem baixas ou bloqueio do diferencial. Apesar de não estar ao nível de um 4×4 a sério, este era bem superior ao de um SUV com AWD. O selector tinha 3 opcoes: 2WD, que fornece potencia apenas ‘as rodas da frente, Auto, que ligava o sistema 4×4 quando o carro achava necessario, e 4WD Lock, em que as 4 rodas tinham tracao constatemente. No alcatrao usavamos semopre o 2WD, e o 4WD nas praias e estradas mais complicadas como o Francois Peron National Park. So usavamos o Auto em estradas de terra batida onde duas rodas eram mais do que suficientes, mas em que o sistema 4WD podia activar-se em caso de necessidade.

Muitos confundem AWD com 4WD, mas não são o mesmo tipo de sistema. O 4WD é um sistema puramente mecânico que é ativado de forma manual (com opcoes automaticas), enquanto que o AWD é ativado de forma automática pelo carro, e so se active quando necessário. Vão ser melhores do que um carro 2WD fora da estrada, mas de longe não tão bons como um 4WD.

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A Austrália é um país, que tal como os EUA e o Canadá, esta dividido por estados, e cada um tem as suas regras e matrículas. É possível comprar um carro com a matrícula de outro estado, mas o mais provável é que sejas obrigado a realizar uma inspeção e a mudar a matrícula. Para contornar esta situação, muitos backpackers têm duas opções: terminam a viagem no estado onde começaram, ou então adquirem um veículo com matrrícula de WA. Por norma, o seguro e o imposto automovel tambem é mais barato em WA do que nos outros estados.

WA é o único estado onde, teoricamente, o carro pode ser vendido noutro estado. Existe uma lacuna: a documentação pode ser enviada pelo correio e não é necessária uma inspeção obrigatória. Noutros estados, é necessário lidar com o processo de compra e venda no “IMT” e efetuar uma inspeção, o que obriga a que o carro seja adquirido nesse mesmo estado. Com matrícula de WA, apenas tens que enviar os documentos para a morada do IMT de WA (DoT). Sendo assim, um veículo com matrícula de WA é a compra ideal se pretendes fazer uma road trip pela Austrália. Vamos dar o nosso exemplo para te explicar todo o processo.

A maioria dos backpackers não cuida dos carros, muitas vezes nem fazem a manutenção básica. Aliado ao facto de não haver inspeções obrigatórias (em WA), os carros estão, regra geral, em péssimas condições. Vimos vários carros em Victoria e deparamo-nos com todo o tipo de problemas: suspensões danificadas, falta de manutenção básica, correias de distribuição partidas, etc… Só encontrámos um carro em bom estado, mas não era exatamente o que procurávamos.

Optamos por comprar um carro em bom estado de Victoria e, posteriormente, quando chegámos a WA, realizamos uma inspeção para mudar as matrículas. Desta forma, quando vendemos o carro (em Queensland), apenas tivemos que enviar a documentação para o DoT pelo correio.

Dicas para comprar um carro usado

1.       Define um orçamento: Deves determinar quanto estás disposto a gastar, incluindo o preço de compra, impostos, seguro e possíveis reparacoes. Nos tinhamos um orcamento de $8000 – gastamos $6000 no carro e cerca de $1500 em reapracoes;

2.       Pesquisa a marca e o modelo: Procura carros que atendam às tuas necessidades, lê análises e compreende os custos típicos de manutenção para esse modelo. Recomendamos que escolhas um carro comum, que no caso da Australia sao marioritariaemnte carros japoneses;

3.       Verifica o histórico do veículo: Obtém o Número de Identificação do Veículo (NIV) e utiliza-o para obter um relatório histórico do veículo. Este relatório revelará acidentes, problemas de título e outros detalhes importantes;

4.       Inspecciona o carro: Se possível, contrata um mecânico de confiança para realizar uma inspeção pré-compra e verificar a presença de problemas ocultos. Alternativamente, tu podes realizar uma inspeção básica por conta própria, procurar sinais de desgaste, ferrugem e problemas mecânicos (foi o que fizemos);

5.       Faz um teste-drive: Leva o carro para avaliar o desempenho, condução e conforto. Presta atenção a sons incomuns, vibrações e como se comporta na Estrada;

6.       Registos de manutenção: Solicita os registos de manutenção do proprietário. Um histórico de serviço bem documentado é um bom sinal de que o carro foi cuidado adequadamente;

7.       Confia nos teus instintos: Se algo sobre o carro ou o vendedor não parecer certo, afasta-te. Existem muitos carros usados disponíveis, e é melhor prevenir do que remediar. Vimos um carro que apesar de estar a ser vendido em Victoria (num stand) ainda tinha matricula de WA e zero historico de manutencao. O vendedor deu uma historia que nao batia certo e passamos ‘a frente;

8.       Verificação do Número de Identificação do Veículo (VIN): Verifica se o VIN no carro coincide com o que consta nos documentos do título e do registro.

9.       Título e propriedade: Certifica-te de que o vendedor possui um título claro para o veículo e está autorizado legalmente a vendê-lo.

10.   Evita decisões precipitadas: Leva o teu tempo ao tomar uma decisão. Não te apresses em comprar um carro; um bom negócio hoje pode se transformar num problema amanhã;

11.   Traz um amigo: É útil ter um amigo ou membro da família contigo durante o processo de compra, para apoio e para ter um par de olhos extras.

Como não tivemos essa experiência, não podemos explicar como comprar um carro em todos os estados, mas é algo que podes facilmente pesquisar. Comprámos o nosso carro em Victoria, depois mudámos a matrícula em WA e vendemo-lo em QLD, por isso vamos explicar-te todo esse processo.

Comprar carro em Victoria

Quando compras um carro usado, o vendedor tem que preencher e entregar um Notice of Disposal na VicRoads (o IMT de Victoria), mas também pode fazê-lo online. Ele tem um prazo máximo de 14 dias para o fazer. Tanto tu como o vendedor têm que preencher o Transfer of Registration. Este documento está disponível online, mas, no nosso caso, o vendedor tinha um pronto para preenchermos. Se (como nós) não tens carta de condução de Victoria, vais ter que dirigir-te a uma localização física. Nós vivíamos no centro de Melbourne, por isso foi apenas uma caminhada de 10 minutos. Apesar de o teres que fazer pessoalmente, podes e deves criar uma conta online na VicRoads, o que te vai permitir, entre outras coisas, mudar os teus dados e pagar o imposto de circulação (rego – diminutivo de registration). Vais pagar selo e uma taxa de transferência*.

Em Victoria, quando um carro é vendido, tens que fazer uma inspeção. O vendedor pode tratar de tudo por ti, como foi o nosso caso. Tens de o rego, e tal como o IUC em Portugal, o valor que já estiver pago mantém-se. Dando o nosso exemplo, o imposto do nosso carro (que comprámos em Outubro) estava pago até Abril, por isso não tivemos que nos preocupar em pagar até essa altura. Por norma, recebes um email 2 meses antes a avisar-te que está quase na altura da renovação, mas só se tiveres criado uma conta online. Por isso é importante que tenhas uma morada de confiança no registo do carro e na tua conta. Nós tínhamos um apartamento alugado em Melbourne, mas quando partimos na viagem usámos a morada de um amigo.

Este imposto também inclui seguro para terceiros, mas apenas para ocupantes/pedestres. Se tiveres um acidente com culpa e magoares alguém, a tua rego paga essa despesa (até um limite máximo), mas não cobre danos noutros veículos ou infraestruturas. Ao contrário de Portugal (e da maior parte dos países), seguro contra terceiros não é obrigatório na Austrália, mas falamos disso mais abaixo.

Se quiseres vender o teu carro, o processo é o mesmo. Devido à obrigatoriedade da inspeção, tens que o fazer em Victoria. Se quiseres vender o carro noutro estado, tu ou o comprador terão que mudar as matrículas para esse estado. 

Mudar a matricula para WA

De forma a podermos vender o carro em qualquer estado, optámos por mudar as matrículas em WA. Poderíamos fazê-lo em qualquer cidade, mas escolhemos fazê-lo na capital, Perth. Fizemos amizade com um casal português onde ficámos alojados por uma semana e que nos deixou usar a morada deles.

Para fazeres a mudança da matrícula, deves primeiro marcar uma inspeção num local autorizado. A inspeção é semelhante à IPO em Portugal, por isso deves confirmar que o carro está em condições. A inspeção custa cerca de $160.

Depois, deves dirigir-te ao DoT com o certificado da inspeção e preencher o formulário VL17, e também apresentar duas provas de identidade, uma delas com morada em WA. A primeira é o teu passaporte, e a segunda pode ser uma fatura (utilizámos a do telemóvel) ou um extrato bancário. Também tens que apresentar prova de que o carro é teu.

Podes encontrar toda esta informação no seguinte link.

Deves entregar as matrículas antigas e vão-te dar as novas na hora. Deves também pagar o novo rego (porque é um estado diferente), e este funciona como o de Victoria, com seguro de terceiros para passageiros e pedestres.

O único passo extra que tomámos foi cancelar o seguro e assistência em viagem de Victoria e comprar o de WA. Como cancelámos a matrícula de VIC 2 meses antes de acabar o rego, recebemos uma pequena porção de volta.

Vender um carro de WA noutro estado

Tens toda a informação aqui, mas vamos explicar como procedemos. Pode utilizar esta informação caso estejas a comprar um carro de WA noutro estado, mas obviamente que os papéis se invertem, dado que és o comprador em vez de ser o vendedor.

Terminámos a nossa viagem em Queensland, e foi aqui que vendemos o nosso carro. Quando estivemos em WA trouxemos 3 cópias do formulário MR9, mas podes perfeitamente imprimir online se nunca estiveste em WA.

Preenches o formulário com todos os teus dados, do carro e do comprador, e envias a cópia azul (vendedor) para a seguinte morada:

Driver and Vehicle Services
GPO Box R1290
PERTH WA 6844

Tens 7 dias para o fazer. A cópia vermelha deves entregar ao comprador, juntamente com os documentos do veículo. O comprador tem que obrigatoriamente ter uma morada em WA. No caso da pessoa que nos comprou o carro, como era nossa amiga, demos a morada de um amigo em WA. Além de ser obrigatório, é importante, pois é lá que vais receber a nova documentação do carro.

No formulário, tens um campo com o valor de venda do veículo. O comprador tem que pagar uma percentage do valor do veículo. No entanto, tem cuidado se estiveres a comprar um carro e colocares um valor mais baixo para pagares menos de imposto, porque se tiveres algum problema e quiseres fazer queixa do vendedor, podes ter problemas por teres declarado o valor incorreto.

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Na grande maioria dos paises, o seguro de responsabilidade civil, mais conhecido por seguro contra terceiros é obrigatório. Isto significa que se tiveres um acidente e danificares propriedades, outros veiculos ou magoares alguém, a tua seguradora devera’, até um certo limite, cobrir essa despesa por ti. Este seguro não é obrigatório na Austrália, mas se causares um acidente e fores culpado, tens que pagar os danos do teu bolso, o que pode chegar a dezenas de milhares de dólares.

Quando tens um carro na Austrália, pagas um imposto semelhante ao IUC Portugues (Imposto Unico de Circulacao), que inclui um seguro de responsabilidade civil sobre pessoas. Se ferires alguém num acidente por tua culpa, esta’s coberto, mas danos noutros veículos ou propriedade nao estao incluindos. Ao fazeres um seguro de responsabilidade civil cobres tudo, por isso recomendamos que facas um, mesmo que não seja obrigatório. Já vimos histórias terríveis de pessoas que optaram por não fazer seguro, bateram em carros muito caros e acumularam dívidas enormes.

Normalmente existem 3 níveis de Seguro automovel: Responsabilidade Civil, Incêndio e Roubo, e Cobertura Total. A Responsabilidade Civil cobre danos que causes a pedestres, outros veículos e os seus ocupaantes, e propriedades publicas e privadas. O seguro de Incêndio e Roubo acrescenta protecao em caso de incêndio ou roubo. A Cobertura Total também cobre o teu carro em caso de danos causados por ti num acidente.

O nivel de seguro a contratar vai depender das tuas necessidades, mas na Australia optámos pelo seguro de Incêndio e Roubo. Ter Responsabilidade Civil salvaguardanos em caso de um acidente por culta nossa, e a protecao extra conta roubo e incendio custava praticamente o mesmo. Normalmente evitamos a Cobertura Total, porque é mais adequada para danos causados por ti ao teu próprio carro, e confiamos bastante nas nossas capacidades de condução. Brincadeiras à parte, temos experiência (mais de 15 anos) e conduzimos de forma segura, por isso acreditamos que a cobertura total não valeria a pena.

Tivemos que fazer seguro duas vezes porque mudámos as matrículas de Victoria para Western Australia – mais sobre isso abaixo. O nosso seguro em Victoria custou aproximadamente $500 por ano, e $270 em WA. Quando mudámos as matrículas, e tambem quando vendemos o carro, notificámos as companhias e recebemos um reembolso pelos meses não utilizados. Optámos pela RAC (RACV para Victoria e RACWA para Western Australia), mas existem outras opções. O preco varia de acordo com diferentes variaveis, mas uma muito importante e’ a tua idade e experiencia. O Seguro ficou em nome do Joao porque era mais velho (31) e tinha mais anos de carta (12 na altura).

A assistência em viagem também é uma opção que deve considerar, e é bastante barata ($16 por mês). Também optámos pela RAC em ambos os estados.

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Passado um mês de termos chegado a Melbourne, começamos logo a pesquisar carros para a nossa viagem de Overland! Ainda era cedo, mas queríamos saber as nossas opções, preços e o que havia disponível. Inicialmente pensamos num 4×4 ou num SUV; tínhamos posto as carrinhas de parte pela falta de capacidade off-road, mas tinha que ter matrícula de Western Australia.

Quatro carros ficaram na nossa memória:

  • Um Toyota Land Cruiser 80 series. Estava em bom estado, com uma tenda igual à que acabamos por comprar, vário equipamento de campismo e acessórios. Estava a GPL, o que podia baixar um pouco os custos com os 20 litros de consumo médio, mas a disponibilidade de GPL fora dos centros urbanos é escassa, portanto, foi uma vantagem que tivemos que ignorar. Apesar do bom estado, já tinha mais de 400.000 km, e aliado ao alto consumo (apesar da gasolina ser barata), achamos que não seria a melhor opção para nós.. O vendedor, um backpacker Alemão estava a pedir $7500.
  • O primeiro SUV que vimos foi um Mitsubishi Outlander. Também tinha a mesma tenda e algum equipamento essencial. Já não temos a certeza, mas os donos, um casal Francês de backpackers, estavam a pedir cerca de $5000 por tudo. O carro aparentava estar em bom estado e tinha poucos km (cerca de 180/200?), mas o que nos deixou desconfortáveis foi uma fatura para uma correia de distribuição que tinha partido. Ora, se a correia partiu poderia haver danos no motor. Fizemos test-drive e aparentava estar tudo ok, mas não quisemos arriscar, ainda mais porque eles nem sequer sabiam o significado da correia ter partido, muito menos que isso tinha acontecido (foi com o dono anterior).
  • O último carro que vimos foi um Ford XXX de dois irmãos Alemães, também eles backpackers. Era um SUV grande, também com a mesma tenda, e aparentava estar em bom estado. O motor é conhecido por ser fiável, por isso achamos que era uma boa opção. O João estava a trabalhar na Ford, por isso conseguiu que uma oficina da marca desse uma vista de olhos no carro de graça, e o resultado foi que a suspensão estava nas lonas. É problema comum nestes carros e a oficina deu um orçamento de $5000, por isso passamos a frente.
  • Vimos um X-Trail, mas este foi estranho ser de WA dado que estava num stand e não pertencia a um backpacker. O stand não tinha bom aspeto, a condução do carro não era boa e parecia estar a pingar óleo. Estavam a pedir $7000 e tinha cerca de 160.000 km.

 Depois destas desilusões todas, tivemos a brilhante ideia de comprar um carro de Victoria em bom estado e depois mudar a matrícula para WA, de forma a poder vendê-lo em qualquer lugar. Já estávamos focados no Nissan X-Trail de primeira geração, pois cumpria a maior parte dos nossos requisitos: espaçoso, potência suficiente, consumo moderado, fiável e um sistema 4×4 que não teve problemas com praias, estradas de terra batida e até estradas de areia solta e alta.

Nós queríamos andar fora da estrada, por isso um SUV AWD não era exatamente o que queriamos. Após alguma pesquisa, descobrimos que a primeira geração do X-Trail tinha um sistema 4×4 “verdadeiro”. Não tem baixas ou bloqueio do diferencial, mas o sistema 4×4 é mecânico e competente.

 O carro tem 3 modos:

  • 2WD, onde a potência vai apenas para as rodas da frente. Era o que usávamos no asfalto.
  • No modo “auto”, a potência vai para as rodas da frente, mas ativa as traseiras no caso de detetar falta de tração. Só usávamos este em estradas de terra batida.
  • O modo “Lock” era o modo com o 4×4 sempre ativo. Era preciso parar o carro para ativá-lo e usávamos principalmente em praias, estradas de areia e estradas de terra batida mais desafiantes. Estava limitado a 80 km/h.

Encontramos o nosso carro no Gumtree, uma plataforma semelhante ao nosso OLX. Estava num stand na zona de Moorabin, e temos que agradecer imenso ao nosso amigo Antonio que nos conduziu até lá (e também ao outro X-Trail). O vendedor era super simpático e pareceu-nos honesto. Tinha vários carros para venda, assim como alguns clássicos dele e uma decoração brutal.

Conduzimos o carro, que aparentava estar impecável, o que não foi uma surpresa considerando que só tinha 89.000 km. Ficámos com a pulga atrás da orelha por ser um carro com 14 anos (2005) com tão poucos km, mas o estado da chapa e interior aparentava isso mesmo. Os bancos eram em pele e estavam impecáveis, incluindo o do condutor, manete das mudanças e outros plásticos, sem grande desgaste. Só teve um dono, ou dona para ser mais exato, que até deixou uma fatura de uma visita ao médico no meio dos documentos. Compramos um relatório ao governo Australiano que diz se o carro alguma vez teve acidentes ou foi roubado. Custou apenas $2 e ficamos de consciência tranquila.

O motor é o 2.5 a gasolina, 4 cilindros e quase 180 cv. Não é nada de extraordinário, mas tem potência suficiente para “carregar a casa às costas” sem ser demasiado gastador. O stand estava a pedir $6000 pelo carro, e depois de uma noite a remoer no assunto, decidimos avançar com a compra! Mais acima já explic á mos o processo de compra em Victoria, e foi isso que fizemos. Depois de assinar um compromisso de pré-compra, o vendedor levou o carro à inspeção, onde passou sem problemas, e fomos buscá-lo no passados uns dias. Os uncios pormenores que nao gostavamos do carro era ter bancos em pele e ser preto, isto devido ao sol forte e calor australiano. Quanto ‘a cor tivemos que lidar, e com os bancos pusemos umas capas de protecao beje.

Depois de o comprarmos não conduzimos muito, afinal, ainda estávamos a viver no centro de Melbourne. O carro ficou em casa do Antonio, e só o levamos para ir comprar o material de campismo para a viagem e para visitar Bendigo, uma cidade a cerca de 150 km. Não só a queríamos visitar, mas dar uma voltinha maior para garantir que estava tudo bem com o carro antes de iniciarmos a nossa viagem. O carro portou-se lindamente, mas havia um problema que não tínhamos notado, e a razão era por ser primavera e não estar calor. No primeiro dia de viagem, quando estávamos a fazer fila para embarcar para o Ferry para a Tasmânia, estavam cerca de 36 graus, e notamos que o cruise control não ligava. Ao conduzir na Tasmânia no primeiro dia, notamos que, apesar das temperaturas amenas, a ventoinha do radiador estava sempre a funcionar. Foi quando conduzimos em direção a Sydney, onde as temperaturas se aproximavam dos 40 graus, que nos apercebemos do problema: algo se passava com o sistema de refrigeração! Quando apanhávamos uma estrada a subir, notávamos o ponteiro da temperatura a subir, o A/C desligava e o cruise control deixava de funcionar. Como só acontecia em subidas (e com temperaturas altas), percebemos que ou o radiador estava entupido, ou o termóstato estava preso fechado. Para desenrascar, íamos com os vidros abertos e o aquecimento no máximo, não foram quilômetros agradáveis devido às temperaturas altas e ao fumo dos incêndios, mas resolvemos tudo quando chegamos a Melbourne. Foram $1200 por um radiador e 2 termóstatos novos (este carro tem 2), pastilhas traseiras, uma junta homocinética, mao de obra e tambem alinhamos a direção. Podíamos ter substituído apenas os termóstatos, mas não quisemos arriscar – foram $300 extra pelo radiador, e assim ficamos de consciência tranquila, ainda mais quando o mecânico foi muito competente (era amigo do vendedor). Apesar dos custos, tudo o que tivemos de substituir era normal e esperado para um carro desta idade, e depois de quase 30.000 km e vários meses na estrada, não tivemos nenhum problema!